A Música não pode ser laica

Sergio e Marivone, do Baixo e Voz. Colocaram um texto, uma carta no site Cristianismo Criativo onde explicam que foram preteridos por um site de MPB. Claro que fui logo visitar o tal site (não vou linkar pra eles aqui, eles não merecem). Eles enviaram o CD "Viagens de Fé” pra ser disponibilizado lá pois acharam que o som que eles fazem tinha tudo a ver com os discos que lá estão.

Eu pessoalmente não gostei do site. A favor deles tem o fato de ali constar um excelente acervo da música popular brasileira. Discos de música boa que não se acham mais tão facilmente por aí. Contra eles o fato de tudo que está lá ser totalmente ilegal, é um sitezinho de “pirataria” que ficou cult e até “chique” por piratearem discos de MPB. Também pesa contra eles o fato de serem preconceituosos: eles recusaram o disco do Baixo e Voz alegando que o disco contem “conotação religiosa” demais.

Ora!

A música é uma expressão do sentimento humano. Se neste sentimento permeiam - entre outros - valores cristãos, do candomblé, do espiritismo e até mesmo do ateísmo, obviamente isto vai se destilar na música que aquele indivíduo cria. Arte não pode ter conotação cristã? Então o quadro "A Volta do Filho Pródigo" de Rembrandt, o classico "Aleluia" de Hendel ou qualquer música de Bach ou escultura do Aleijadinho, e músicas que citam "Oxum" do Caetano também não são arte.

Existe meio que uma aversão do pessoal não-cristão em "misturar as coisas"... Lí uma vez o Aristeu contando que tentou gravar a canção "De Vento em Popa" com o MPB4... entrou em contato com eles, que gostaram da música mas se negaram a gravar dizendo que "não é bem a nossa praia". Mas esta aversão tem uma causa que já está entranhada em nossa cultura e não será fácil resolver a curto prazo:

No passado os cristãos escolheram se distanciar culturalmente das "coisas do mundo" e criar paralelamente uma cultura própria, onde nada que era "do mundo" podia ser sequer utilizado como referência... não se podia ouvir uma música. Dançar? Fora de cogitação! Há pequenos grupos em que a TV é proibida. Até o modo de vestir, cortar cabelo, tudo foi influenciado por este radicalismo em nome de uma santidade de fora pra dentro. Uns mais, outros menos mas o fato é que os cristãos se distanciaram. Esta separação custou muito caro e culminou por criar este "monstro gospel" estranho que nos faz ter vergonha de ser identificados como crentes e de sermos confundidos com toda esta aberração que vemos por aí nos dias atuais.

Por outro lado, eles acham que somos (me refiro aos cristãos) todos iguais. O preconceito que criamos para nos separar deles não é menor que o preconceito que eles tem por nós e vice-versa. Olha eu aqui tratando eles por "eles" e afirmando esta separação quase que por reflexo. Esta separação tem que acabar. Mas ela continua dentro de nossas igrejas, sobretudo no interior do Brasil - onde moro - onde isto tudo é ainda mais nítido.

Infelizmente estou entre os que não vê perspectiva desse quadro evoluir... Mas eu sonho sim em um dia ver canções de Miltons e Chicos cantadas em nossas liturgias e – porque não sonhar? – ouvir um Caetano ou um Gil cantando uma do Pimenta ou do Rehder.

Comentários

Kadija Teles disse…
Joe,concordo com algumas coisas, principalmente no que diz respeito que esse preconceito foram os próprios cristãos que criaram, e nós fizemos parte dele.Acho que estamos colhendo os frutos sim, infelizmente. Uma prova viva disso é o fato de que a maioria das igrejas só canta musica evangelica de muito mal gosto. Há um tempo atrás cantamos lá no culto "sal da terra", na circunstância de uma msg sobre cuidar da casa que Deus nos deu, e foi um barato. Existe coisa mais cristã que essa?
Enfim, esse assunto dá pano pra manga. Mas vou parar por aqui.Beijos
IEDA SAMPAIO disse…
Este texto tem cara de Ieda, mas ela só anda com ele - e tem orgulho disso - então está explicado.

Inteligentes, bem concatenado... recheado de sabedoria.

Deus nos abençoe nesse mundo-gospel-cão.

Te amo.

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