Amizade
Pensando nesses dias em que começo a me perceber um cinquentão e realizando que já tenho mais dias no meu passado do que à minha frente acabei por perceber coisas novas sobre como é a minha relação de amizade com meus amigos e até sobre o que eu sempre imaginei comigo sobre o que significa essa palavra.
Amizade.
Antes de iniciar, um disclaimer: Isso não é uma indiretinha, um desabafo, ou reclamação ou queixa ou lamúria sobre nada. É apenas uma feliz realização. Uma constatação do que sempre foi e só eu não percebia. Isso é mais uma mea-culpa. É - finalmente - um momento em que "a ficha caiu" sobre uma coisa que só eu parecia não perceber.
Amizade...
Tenho percebido que essa palavra - hoje - sempre significou mais pra mim do que para a maioria de meus amigos. Não posso falar por ninguém, mas falando por mim, sempre desenhei a amizade como algo tão surreal e difícil de alcançar que realmente era muito fácil se decepcionar com qualquer vacilo, qualquer desvio de trilhos de qualquer amigo a qualquer hora ou momento... era uma régua muito alta para medir quem quer que fosse. Só agora vejo que medindo pela minha régua, fica muito fácil achar que não se tem amigos.
Foi nesse lugar que me encontrei ao me ver chegando nos 50 e rodeado da ausência de amigos. Todos longe. Cada um cuidando do seu corre. Todos sem muito tempo para nada... quissá ligar para um amigo. E eu, de meu lado, me vi "mendigando" um pouco de atenção, um pouco de qualquer coisa de todo aquele pessoal que, num passado agora muito distante, já viveu comigo alguma aventura, ou teve os seus momentos de ternura e alegria ou o que fosse... Confesso que tive momentos de desespero. Cheguei a ligar para alguns e desabafar sobre isso. Para o desespero de alguns. Coisa chata isso.
Hoje vejo com clareza: Meu conceito internalizado de amizade estava desconcertantemente equivocado. Então mudei. Mudei minha percepção? Claro que não. Isso nunca vai mudar. Esse maldito conceito de amizade está gravado em pedra em mim e no meu DNA de forma que penso que é impossível "reprogramar" isso. O que mudei foi a forma de encarar tudo isso. Um pouco mais leve. Sem cobranças de minha parte.
Percebi nesse exercício que havia amigos que nem queriam mais amizade comigo. Já tinham outra vida. Outros amigos. Mas que estavam lá ainda porque eu os amarrava e constantemente os lembrava: "Olha... eu estou aqui! Vamos tomar um café!"
A vida é assim, leva a gente para outras paragens. Outras realidades que acabam por ser mais sedutoras ou apenas mais palatáveis ao momento de vida da pessoa. As pessoas acabam por sofrer metamorfoses, crescem e amadurecem de forma que o que era legal numa fase da vida já não lhe parece ser mais tão assim nesta fase.
Então percebo agora de forma bastante embaraçosa que praticamente forcei amizade como um remédio ruim goela a baixo de muita gente que educadamente foi levando sem saber bem o que fazer comigo. Constrangidos por aquilo - coitados - iam empurrando com a barriga por educação e por não querer fazer uma desfeita com um cara que foi legal com ela no passado.
É triste! Mas entendi gente!
Finalmente eu soltei as cordas que insistentemente prendia todo esse pessoal e os fazia ficar por perto meio que forçadamente. E me sinto aliviado de não mais ser o cara que liga. O cara que insiste, e que cria desculpas e situações para mostrar o quanto é amigo.
Eu sei que parece um desabafo. E é sim. Mas não um desabafo triste. É uma - talvez triste - forma de dizer:
- Entendi.
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